segunda-feira, 14 de setembro de 2009

[O rei está nu...]

O rei está nu,
Meus caros.
E o reino está abandonado,
Entregue ao acaso.

Dizem que anda pelas ruas
Nas madrugadas frias de Setembro;
Não há som ou voz conhecida,
Vaga pela boemia
Como que buscando expiar seu próprio pudor.

O rei está nu,
Meus caros.
Entregue à sua própria tragédia
Transfigurada em prazer.

Está fora de si,
Vê imagens e figuras nas paredes,
Ouve vozes nas noites insanas,
Entre risos e gritos.

O rei abriu mão de seu trono
E não há quem governe seu reino.
Abriu mão de seu martírio,
Entregou-se ao riso
Para não sucumbir ao pranto.

Encontraram-no em terras inférteis.
Dizia que ali fora feito homem,
Sangue de afeto,
Semblante endurecido.
Reclamava a terra como parte de seu corpo.

O rei está nu,
Meu caros.
E o reino está nas mãos de nossos invasores.

09/09

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Silêncio

Fecho meus olhos nesta noite,
Ouço a chuva lá fora
Convidando-me ao sonho.
Ah, se tudo fosse essa noite...

Silêncio,
Meus inimigos querem dormir.
Pela manhã penso em encontrá-los;
E se minha morte é certa,
Peito aberto,
Junto meus restos
E me entrego à crueldade.

À noite refaço minha humanidade.
Durmo,
Pois pela manhã seguinte encontrarei meus inimigos.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Tive todos meus pesadelos essa noite.
Um a um, todos temi.
A dor, o medo, o sofrimento,
Retorcia-me em face de tamanho desprezo.
Via o sol tornar-se negra silhueta,
Agia e não sabia o porquê.

Surdo mundo dos sonhos,
Invadia o dia.

Toda minha ira transformava-se em nada;
Tirou-me os mais queridos,
Lembrou-me dos esquecidos.

Pôs fim em toda a história,
Foi espelho aonde eu queria esquecer.

O sonho foi chegando ao fim,
O dia já nascia.
Se acordei, não sei.

Assim esses versos
Vão findando,
Sem nunca haver um fim.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Joguei fora meus comportamentos,
Entulhei meus padrões.
Hoje sou agora,
Um instante todo em lentidão.

Joguei fora minhas conclusões;
De nada serviu minhas especulações.
Abandono-me à essa força que me escapa;
Essas mãos que me restam,
Não me provaram nada.

A razão me trouxe até aqui,
Mas de maneira alguma me livrará.

07/09

terça-feira, 30 de junho de 2009

Eternas anotações

Teria sido eu pintor,
Manchas disformes atestariam minha falta de exatidão.
Fosse músico,
Notas trariam lágrimas ao se encontrarem
Com o que teimo em descrever.
Quem dera escritor,
Para que palavras saltassem aos olhos,
Tornando vivo o que se esconde
Por detrás dos olhos.
Linhas diriam palavras eternas,
Ansiedade transformada em calmaria,
Distância em mera poesia.

Eu queria, como gostaria,
De numa folha de papel,
Dizer-te quem é o Gabriel!
Transmutar desejos,
Sentimentos,
Para que então eles possam fazer-te companhia,
Tecer pensamentos,
Para que lembre-se deles
Quando eu não estiver por perto.

Pois em mim tenho que a eternidade cabe em um momento,
Em um coração.
E aqui tento exprimir
Esse absurdo sentimento,
Um pedaço desse tempo.
Que não é minha criação,
Mas que vive na eternidade de um momento divino;
Momento crescido,
E que aos poucos voa
Nessa incrível imensidão.

06/09

quarta-feira, 3 de junho de 2009

As flores nascem a cada manhã,
São novas e belas
Como se não houvesse história,
Como que únicas a cada dia.

Assim meus olhos correm
Por essas paisagens,
Esperançosos de uma nova manhã,
Um novo haver,
Nova oportunidade.

Haverá manhã nova, dis a terna voz.
Talvez meus olhos procurem-na afoitos,
Sem saberem da graça diária;
Cansados de procurar,
Encontrarão, então,
O que sempre esteve ali.

31/05/09

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Resta a contemplação das coisas
Como elas são.
Resta agora uma lenta redenção,
Um olhar perdido
Silêncio em gritos de perdão.

Os olhos fecham sem querer,
Cegam ante o terror.
Toda força me abandona à solidão.
Espero, relutante
Pela última e derradeira voz
Chamando-me no antro
Dessa ilusão.

05/09