segunda-feira, 23 de junho de 2008

You gonna carry that weight

Só por esta tarde,
Celebrarei a tristeza,
O que um dia foi
E nunca mais será.
Só por esta tarde,
Serei triste,
Louvarei a solidão,
A chuva que cai serena,
A resignação de quem perde
E a dor de quem sofre calado.
Celebrarei o adeus,
O fundo do poço,
A sensação de quem ama
Mas que não sabe derramar uma lágrima.
Só por esta tarde,
Viverei como quem vaga,
Como quem não entende
E sofre lutando com a razão.
Andarei horas e horas
Para então gastar a desilusão,
E terminarei com um sorriso,
Um peso nas costas
E uma muda solidão.

06/08

segunda-feira, 16 de junho de 2008

No claustro dos acontecimentos,
Eu me vi como a distância.
E só então deparei-me
Com a vida.
Uma sucessão de impressões
Forjavam a realidade,
E isso se tornou
A mais verdadeira das incertezas.
Na fluidez dos fatos
A menta projeta o real.
Questiono-me sobre quantas farsas
(minhas farsas)
Contruí meu fôlego e esperança.
Uma tarde de sol,
É, na verdade,
Um temporal de sinceridade e luto.
A verdade sobre a tarde,
É que ela carrega um erro
O erro de eu observá-la,
Mas não vê-la.
Tudo um conjunto de sensações,
Trágicas constatações,
De uma frágil verdade.
Um jogo de azar,
Uma caixa de surpresa da alma;
Essa vontade louca,
De gritar toda a realidade;
Inevitável verdade
De machucar o coração.


15/06/08

quinta-feira, 12 de junho de 2008

É tudo!
É o mundo, o universo;
A gritaria, a balbúrdia,
o ódio, a raiva.

É nada.
É a finitez, a prostração,
A dúvida, a dor, o silêncio.

É, de súbito,
Uma lágrima

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"Pois esse não saber me dói,
Me impede o sentir, o mudar.

Parei no tempo,
Num tempo sem começo nem fim,
Assisto a uma cena que se repete,
Quase estática em minha mente."

06/08

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Confissão do amor

Conhecimento, ciência, razão,
Lógica, matemática, geometria,
Filosofia,antropologia, sociologia,
Logosofia, literatura, poética
Rima, estilo, métrica
Estética, criatividade, beleza.

Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos
Ainda que eu tenha o dom de profetizar
Ainda que eu conheça todos os mistérios e toda a ciência
Ainda que tenha tamanha fé, a ponto de transportar os montes
Ainda que distribua todos os meus bens entre os pobres
E ainda que eu entregue o meu corpo para ser queimado
Se não tiver amor, nada disso me aproveitará.
Seria como o metal que soa, ou como o sino que tine.

Revoluções, revoltados, revoltosos
Greves, grevistas, capitalistas
Socialistas, fundamentalistas, terroristas
Democracia, democratas, republicanos
Amigos, inimigos, camaradas
Padres, papas, pastores
Apóstolos, mestres, profetas.

O amor é paciente, benigno,
Não arde em ciúmes, não se ufana,
Não se ensoberbece.
O amor não procura os próprios interesses,
Não se exaspera, não se ressente do mal,
Não se alegra com a injustiça.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Ódio, dor, raiva
Cólera, briga, alegria
Riso, pranto, crença
Descrença, crentes, descrentes
Budistas, católicos, evangélicos,
Pagãos, ateus, panteístas
Astrólogos, astrônomos.

O amor jamais acaba
Mas havendo profecias
Desaparecerão
Havendo línguas
Cessarão
Havendo ciência
Passará.

Alta cultura, baixa cultura, sem cultura
Arte clássica, arte barroca, arte moderna
Loucura, consciência, abstração
Paixão explosiva, paixão, sexo
Intelectualidade, gênios, loucos.

Quando eu era menino
Falava como menino
Sentia como menino
Pensava como menino
Porém, logo que cheguei a ser homem
Desisti das coisas próprias de menino
Porque agora conheço em parte
Mas então conhecerei como também sou conhecido.

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Amor bastante

(Paulo Leminski)

quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante