sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Inútil poesia

A poesia anda perdida pelas ruas
Procurando quem a abrigue.
Anda desconsolada
Pelas mentes complexas,
Avessas à súplica,
Ao braço que se estende.

É mais um moribundo
Que toca seu violão,
Dividindo espaço entre as pessoas
E as paredes de concreto.

A poesia sorri aos transeuntes
Mas eles a negam,
Alegando sua inutilidade.
Do que lhes serviria as palavras afinal?

Uns decretaram o fim desse lirismo besta,
Presos em suas regras de pretensa liberdade,
Separam corações de mentes.

Em cada esquina, um miserável
Em cada mente, um deus
Em alguns olhos, o viver.

A poesia sentou-se à sarjeta
Escreveu seus dizeres no asfalto
Pediu a Deus clemência
E comprometeu-se com os inúteis
Estes sim, os últimos a andarem descalços
Pelo chão.

12/08

sábado, 25 de outubro de 2008

A valsa dos desesperados

Agora é essa música lenta,
O relógio passando...
Eu escrevo errado,
Vou tentando, tentando,
Errando, errado.
Os ciclos,
O vento,
As folhas que caem
No meu pensamento,
A fumaça que vai se formando,
Imagem turva do amor silêncio.
Essa impressão eterna
Da voz altiva
Agora distante.
Teu semblante vivo
Que eu sei, é triste.
E meu coração agora
Te escreve uns versos mudos,
Pálidos,
Pois és assim
Na composição de minha mente.
És um pórtico partido,
Um espelho quebrado,
Que insiste em embaralhar-me.
Ofereço-te agora uma melodia,
Incompleta, vazia, cíclica,
Que toca seus ouvidos como uma lágrima.
E agora são gritos tudo aquilo que dizes.
E essa valsa o teu feliz encontro,
Teu par,
Um manequim cadavérico,
Gélido a te guiar pelo salão antigo
De vazios
E fantasmagóricas lembranças
Abandonadas pelo tempo.

10/08

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Quadro

Todas as esperanças,
Folhas desprendidas no mar;
Toda a segurança,
Uma aposta em um jogo de bar.

O que te disseram que te fez sonhar?

Não existe essa tal de solidez.
Minto, mas grito alto esse pesar.
E quanto pesa o terror da pena sob o ar.

Leve,
Está nas mãos do vento,
Esse incerto movimentar;
Quanto já oscilou?

Quem pode dizer quanto tempo passou
Desde a manhã perdida em teu olhar?
Dias acompanhando o vento.

Quem te disse as maiores verdades?
Foi aquele que era grande
E hoje padece?

As horas carecem dos minutos,
Os minutos carecem dos segundos.

A verdade é essa criança
Que brinca com facas
E faz retalhos do pensar.

Quem te fez assim?

09/08

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Aos dias, o meu sorriso.

Revendo páginas antigas,
Encontro algumas que já nem me lembrava mais.
Umas nem estão inteiras,
Enquanto outras são impossíveis de esquecer.
Todas falam algo.
Um sentimento,
Uma dor,
Um momento, uma saudade.
Encontrei até um poema sobre a lua e um par de olhos!

Devo dizer que me dói alguns escritos.
Aqueles que me acompanharam fielmente
Por momentos únicos.

Esses me lembram da beleza da saudade,
Do quão sincero é sofrer por ventos passados.
Sinto agora uma vontade de dizer que tudo foi lindo ao seu tempo.
Agora, só resta a memória.

Difícil dizer sobre o presente,
Sobre o futuro.
Talvez o agora será feito de páginas amareladas pelo tempo.

Sempre haverá algumas linhas de despedida,
Se serão belas, perfeitas,
Não sei.
Sei que serão sinceras.

Sei que hoje é a novidade.
E aos de outrora,
Resta o meu mais sincero "Até logo",
(talvez com lágrimas nos olhos)
E aos de agora,
Eu dedico os versos que hão de vir.

10/08

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Olhando os jardins

A maior loucura,
É a nossa mais pura realidade.
Olhar a chuva
E pensar que é grande tempestade.
Ver o amor de longe,
E pensar que é de graça
Essa inexplicável felicidade.

10/08

domingo, 5 de outubro de 2008

...E que venham os dias

Hoje o mar é revolto,
Bravio
E o vento bate forte.

Meu barco de papel
Resiste com audácia,
Corta as ondas
E não se rende facilmente.

Mas é no ápice dessa resistência
Que eu fecho os olhos,
Abro os braços
E, sem pestanejar,
Me atiro ao mar.

Que as ondas e a maré me levem.

Meu barco, feito com muitíssimo zelo,
Composto da mais bela ambição,
Do mais inocente orgulho,
Se desfaz num único instante.

Agora sou feito da água,
Filho do vento e da terra.

Perco tudo e perco nada
Ganho tudo aquilo
Que os anos e a mente
Me fizeram perder.

10/08

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Hoje e as estrelas.

De repente é um gosto amargo na boca
Um tiro a queima roupa
E me sinto,
Agora solto,
Quase ileso.
Eis que,
Andando na rua,
De repente paro.
Ouço as mesmas palavras de outrora,
Vejo o mesmo ciclo se repetir
O mesmo findar dos acontecimentos
Ai, como dói cada passo dado.
Mas eis que corro
Em minha direção.
(Eis que jogo fora o ciclo)
Me pego escutando estrelas
E, não duvide,
As tenho contado dia-a-dia.
Algumas me dizem bobagens
(e quão belas bobagens!)
Enquanto outras me dizem impropérios.
Nessas minhas conversas
Me dói perceber que,
Alguns dias sim, outros não,
Certas estrelas se apagam
E teimam a reacender.
(Ah, essa mágica miraculosa do amor. Amor?)
Porém, com muito custo
E ao findar de alguns dias,
Elas voltam a brilhar.
Fortes,
Vivas.
Agora,
"Ora direis ouvir estrelas?"
As tenho ouvido noite após noite,
E temo parar de ouví-las algum dia.
(Mas quanto temor há num simples gesto!)
Nesse torpor distante,
(Amor?)
Tenho vivido uma verdade;
Dita por estrelas,
Confesso.
(O que não deixa de ser minha pura e sincera verdade)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Passado Presente

O Hoje saiu brigado com o ontem.
Foi pela avenida principal,
Deu a volta na praça,
Virou a esquina,
Correu, correu;
Chegou na estrada que sai da cidade
Olhou e foi em direção ao mar.

Nadou, nadou,
E chegou em uma ilha no meio do nada.
Sentou,
Respirou o ar puro,
E até fechou os olhos.

Quando levantou encontrou o ontem,
Que, por sua vez,
Foi pela avenida menor,
Esqueceu da pracinha,
Não virou a esquina
E correu para o porto.

Pulou do navio no meio do nada,
Nadou, nadou
E alcançou uma ilha que parecia deserta.

Os dois se olharam
E cada um correu para uma direção,
Nadando, desesperados,
Afoitos,
Apenas esperando o momento
De se encontrarem de novo em uma ilha qualquer.

09/08

sábado, 13 de setembro de 2008

Descansa alma minha;
Desfruta da sua inépcia,
Do momento que vai
E que não pode ser preso por nimguém.
Deixa em paz os pássaros que te visitam;
Se, por acaso, eles voaram,
Como poderão voltar, a não ser por eles mesmos?
Do que adianta os gritos,
O tormento?
Visita o museu dos fatos,
Alegra-te no presente
E esquece o futuro.
Alma minha,
Por que choras alto,
Acordando assim quem já dorme?
Sai desse teu quarto de imagens,
Vem ver o dia que te chama.
Beija quem te ama,
Abraça quem pensa em ti;
Sem promessas de futuro,
O tempo presente só requer amor.

09/08

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

"Dói-me no coração
Uma dor que me envergonha
Quê ! Esta alma que sonha
O âmbito todo do mundo
Sofre de amor e tortura
Por tão pequena coisa...
Uma mulher curiosa
E o meu tédio profundo ? "

Fernando Pessoa

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Ruptura

Há um grito que ecoa
Pelas ruas, pelas calçadas;
Entra nas casas,
Faz-se ouvir nos quartos.

É o grito que
Tira a esperança dos débeis,
A lucidez dos sábios,
A certeza dos amantes.
É o som que ensurdece,
Fere os imortais,
Abre a ferida e estanca.

Absorto, absorto,
Náufrago, solitário
No espelho turvo
Dos sonhos.

Torpor
Torpor.

Não sinto mais amor
Não sinto mais ódio
Não sinto mais alegria
Não sinto mais tristeza
Não sinto mais
Não sinto
Não
...

É o grito que separa
A fala de quem ama;
E o silêncio
De quem conta estrelas
Entre sonhos e promessas de eternidade.

09/08

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Tristeza e memória.

"Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade."
Rubem Alves

Quem escreve,
Escreve por que tem medo.

Escrevo pois temo a morte;
Morte do ser,
Morte da alma,
Morte do momento.

Alguém próximo morreu hoje,
E assim desespera o homem;
Corre em luto,
Entra o corpo.
Aonde estará aquele sorriso?
Aonde estará aquela voz?
Quem dera um último abraço.

Não quis a morte
Conceder de volta o que era belo.
Agora,
Só resta o corpo.
Se foram os sorrisos, a voz, os beijos.

Agora ele escreve,
Para ouvir de novo um murmúrio,
Uma confidência.
Escreve para alcançar o toque,
A marca que não volta.

Lança-se em um mar de infinitos,
Se oferece em sacrifício.

Escrevo pois temo a morte,
Não a minha.
...

Escrevo para manter
As cores vivas em meu quadro.
Frágil quadro de lembranças.

Escrevo para manter-te viva.
Pra te viver mais um dia.
Pra te ver feliz, triste.
Pra manter-te humana em minha mente.

Escrevo por que temo.
Temo a perda,
Temo a morte.

08/08

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Fragmentos

As várias colagens
São retratos.
Realidade esquecida,
Fragmentos soltos de um outro
Jogados em um canto da mente.

As marcas falam ao ouvido,
Baixinho, como um amigo esquecido.
Isso e aquilo,
Partes em branco de um quadro;
Manchas que não podem ser apagadas,
Falta que não pode ser desfeita.

Na parede há trechos de textos diversos,
São vidas tão diferentes,
Impressas em um horizonte no fim de tarde.
Todo céu para explorar,
Mesmo assim, continuamos no chão.

Tudo o que não foi, certamente voltará.

08/08

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Vermelho inocente

Pela janela de um quarto alto,
O vento toca seu rosto, brinca com seu olhar curioso.
Seus cabelos dourados contam histórias
Dizem sobre beleza,
Falam sobre ela,
Expressiva, cuidadosa.
Ao final do dia,
Em uma tarde pretensiosa,
Assim conversam com ela
Os inocentes dias,
Leves, calmos, pacientes.
Ela escuta atenta,
Sempre desprevinida.
Todas as tardes ela é criança
Eternizada no silêncio.
Na força do não saber,
Ela é forte como os montes,
Frágil como as rosas;
Só então, larga de ser menina
E passa a ser mulher

08/08

sábado, 9 de agosto de 2008

A um grande amigo

"Caro amigo,
Algumas coisas continuam difíceis; ás vezes me pego cabisbaixo, silencioso, repassando algumas frustrações, falhas...
Olho o tempo passando e eu sempre corro para não perder... Perder o quê? Não sei, mas corro inutilmente. Ainda ouço as mesmas músicas, ainda refaço meus velhos passos, você sabe, eu não mudo facilmente. Ainda ignoro alguns conselhos, julgando saber. Tenho andado por aí, pensando sempre na queda eminente, na minha estúpida teimosia, na velha mania de perder o jogo antes da partida; pensando que talvez eu nunca mude. Amigo, mais que irmão, quantas vezes te contei pesadelos que me atordoavam a mente! Sempre foi fácil te falar das lágrimas que não derramei. Meu caro amigo, obrigado por sempre ter sido aquele que se sentou na beira do abismo comigo, e me convenceu a não pular. Obrigado porque eu sei que, se fosse preciso, você desceria até o mais profundo abismo da alma, só pra chorar comigo as dores que, de já tão profundas, caminham lado-a-lado comigo. E só bastaria um olhar, um sorriso para que tudo se tornasse muito mais fácil.
Para nós que pensávamos morrer tão cedo, tenho grandes notícias.
Digo que a caminhada ainda é longa. E se não for, não importa. Um só dia pode conter uma vida inteira, e isso já é o bastante."

08/08

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Prenúncio de dor e loucura.

Ele, o homem
Acorda com o ensurdecedor som do silêncio.
Paira entre a dúvida e as luzes que o seduzem.
Encontra a mentira no silêncio
E a súplica na voz dos malditos :
"Nos dê plenitude!", eles gritam.

Correm atrás do destino
Entre os gritos da ilusão
E o solo de cimento.
Loucura visceral que os move.

Ele, o homem,
Teima em um piano de bar vazio,
Matando-se aos poucos,
Chorando notas que tocam seus cabelos.

Eles querem, precisam.
A multidão caótica
Grita pelo subjetivo andar da alma,
Pelo vagaroso caminhar do vento.

Entre a realidade e a desilusão,
Ele continua em seu piano.
Como dói cada compasso humano.

Ilusão.
Bolhas de sabão industriais.
A razão das indeterminações.
Bem, mal, esquerda, direita,
Somos todos humanos animais.

O homem dói cada canção lenta,
Num bar vazio,
Entre os fantasmas humanos
Todos humilhados, sentados no chão.

Como dói cantar a realidade,
Bonita humilhação.

08/08

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Verdade

Confesso ter errado, confesso ter mentido tantas vezes, e de maneira tão descarada que já não me reconhecia mais. Confesso que, por várias vezes, confundi meus valores, já não sabia diferenciar o certo e o errado. Confesso que já não tive valores. Confesso que deixei de amar ás vezes, porém, confesso que também amei. Amei e também já fui amado. Confesso que não dei a atenção devida quando precisava. Confesso que, por muitas vezes, não supri o que crescia em você, pois simplesmente não podia. Confesso que fracassei e continuo fracassando miseravelmente, dia após dia, em sucessivas tentativas, das mais variadas naturezas. Confesso que errei. Errei e convivo com as consequencias até hoje. Confesso, confesso, confesso. Confesso ter sido vão! Confesso ter tido esperanças tão frágeis como meus gritos de raiva, teimando entre o ódio, a dor e a insegurança. Confesso que sofri. Padeci da doença e também da prisão de mim mesmo. Confesso que, por muitos dias tive vontade de desistir, chorar por dias a fio, tentando encontrar uma solução. Confesso ter achado que não havia solução, que estava fadado a dor, a lamentação, por toda a vida um complexo claustrofóbico, um ciclo louco, insano que levaria minha vida a cabo.
Confesso ter traumas e confesso ter traumatizado. Confesso que tive medo. Confesso que tive medo do que a poesia podia me falar, confesso que já vivi as verdades mais passageiras. Confesso que já perdi amigos e confesso que já me despedi de alguns sem ao menos dizer adeus. Confesso que já decepcionei a mim e a você.

Confesso, porém, que hoje, apesar das nuvens no céu não me dizerem a verdade, as manhãs são mais claras, as noites têm mais estrelas e ao deitar logo pego no sono. Confesso que muitas coisas tem feito sentido agora. Confesso que outras ainda não fazem. Apesar disso, confesso que tenho acordado com novo ânimo. Confesso que tenho voltado a olhar o mundo sob outros olhos. Confesso que sorrio menos, porém sorrio com muito mais verdade do que outrora. Confesso ter olhado o mendigo e visto um ser humano.Confesso que o mendigo é mais humano que eu. Confesso ter mudado meu modo de olhar e de agir. Confesso ter amado. Confesso você e confesso eu.
Confesso,confesso e confesso. Assim, sem mais nem menos. Só pra ser sincero, ao menos comigo.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Fumaça na paisagem

Quem dera
Eu tornasse a ouvir aquele som.
Aquela melodia,
O assoviar do mistério;
Indescritível harmonia
Que me levou ao relento;
Dia após dia
Tirava-me lágrimas,
Lágrimas de alegria.
Andava sob compassos graciosos,
Leves como uma pluma no ar.
Dizia-me palavras de graça,
Palavras que levavam-me
Ao profundo sentido humano,
À origem.
Quem dera abrir os olhos
E ver como a criança vê um jardim,
Começar de novo.
Queria deitar
E ver o horizonte,
Sem saber ao certo
Onde termina a terra,
E onde começa o céu.
Conversa eterna,
Com o mistério da vida,
Falando coisas bobas,
Dizendo sobre dores,
Alegrias e até amores.

Perguntaram-me se Deus,
No finalzinho da tarde,
Vinha trocar algumas palavras.
Silenciei.

07/08

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Alegria

Distraído,
Descobri que toda a minha existência,
É uma volta pra casa.
É sentir a brisa da noite,
Fechar os olhos por um instante
E então perguntar pra lua,
Qual é o segredo da vida,
Qual é o sentido da minha existência,
Todas as questões de metafísica,
Todas aquelas além da minha compreensão.
Então, no dia seguinte,
Acordo ainda mais estarrecido com todo o meu viver,
Com o meu sonhar e sentir.
Passo a experimentar e a viver minhas questões
Com ainda maior assombro,
Passo a me relacionar com elas.
Chega a noite e eu me ponho a questioná-las novamente
E as vivo com maior intensidade.
Tudo,
Uma eterna submissão, caminhada.
Um eterno aprendizado, diálogo.
Um eterno retorno ao lar.

07/08

domingo, 6 de julho de 2008

Transcende
Criatura informe,
Arranca essa tua máscara,
Tira isso que encobre as tuas cicatrizes.
Transcende,
Rompe com a tua dependência,
Mostra ao mundo,
Grita,
Reclama o que é teu.
Transcende,
Vive,
Dá luz a um novo destino.
Cria,
Caminha a estrada sem fim.
Transcende,
Esquece a dor da travessia,
Olha lá na frente,
Que a chuva já vem
E não pergunta se é cedo ou se é tarde.
Transcende alma minha.
Obedece a mente,
Esquece um pouco o coração
E torna-te grande
Na pequenez da razão.
Transcende,
Pois há crianças na rua,
Há sorrisos no rostos,
Ainda há sensibilidade,
Ainda há paixão.
Nas areias da praia
Ainda há conchas no chão.

01/07/08

segunda-feira, 23 de junho de 2008

You gonna carry that weight

Só por esta tarde,
Celebrarei a tristeza,
O que um dia foi
E nunca mais será.
Só por esta tarde,
Serei triste,
Louvarei a solidão,
A chuva que cai serena,
A resignação de quem perde
E a dor de quem sofre calado.
Celebrarei o adeus,
O fundo do poço,
A sensação de quem ama
Mas que não sabe derramar uma lágrima.
Só por esta tarde,
Viverei como quem vaga,
Como quem não entende
E sofre lutando com a razão.
Andarei horas e horas
Para então gastar a desilusão,
E terminarei com um sorriso,
Um peso nas costas
E uma muda solidão.

06/08

segunda-feira, 16 de junho de 2008

No claustro dos acontecimentos,
Eu me vi como a distância.
E só então deparei-me
Com a vida.
Uma sucessão de impressões
Forjavam a realidade,
E isso se tornou
A mais verdadeira das incertezas.
Na fluidez dos fatos
A menta projeta o real.
Questiono-me sobre quantas farsas
(minhas farsas)
Contruí meu fôlego e esperança.
Uma tarde de sol,
É, na verdade,
Um temporal de sinceridade e luto.
A verdade sobre a tarde,
É que ela carrega um erro
O erro de eu observá-la,
Mas não vê-la.
Tudo um conjunto de sensações,
Trágicas constatações,
De uma frágil verdade.
Um jogo de azar,
Uma caixa de surpresa da alma;
Essa vontade louca,
De gritar toda a realidade;
Inevitável verdade
De machucar o coração.


15/06/08

quinta-feira, 12 de junho de 2008

É tudo!
É o mundo, o universo;
A gritaria, a balbúrdia,
o ódio, a raiva.

É nada.
É a finitez, a prostração,
A dúvida, a dor, o silêncio.

É, de súbito,
Uma lágrima

-----

"Pois esse não saber me dói,
Me impede o sentir, o mudar.

Parei no tempo,
Num tempo sem começo nem fim,
Assisto a uma cena que se repete,
Quase estática em minha mente."

06/08

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Confissão do amor

Conhecimento, ciência, razão,
Lógica, matemática, geometria,
Filosofia,antropologia, sociologia,
Logosofia, literatura, poética
Rima, estilo, métrica
Estética, criatividade, beleza.

Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos
Ainda que eu tenha o dom de profetizar
Ainda que eu conheça todos os mistérios e toda a ciência
Ainda que tenha tamanha fé, a ponto de transportar os montes
Ainda que distribua todos os meus bens entre os pobres
E ainda que eu entregue o meu corpo para ser queimado
Se não tiver amor, nada disso me aproveitará.
Seria como o metal que soa, ou como o sino que tine.

Revoluções, revoltados, revoltosos
Greves, grevistas, capitalistas
Socialistas, fundamentalistas, terroristas
Democracia, democratas, republicanos
Amigos, inimigos, camaradas
Padres, papas, pastores
Apóstolos, mestres, profetas.

O amor é paciente, benigno,
Não arde em ciúmes, não se ufana,
Não se ensoberbece.
O amor não procura os próprios interesses,
Não se exaspera, não se ressente do mal,
Não se alegra com a injustiça.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Ódio, dor, raiva
Cólera, briga, alegria
Riso, pranto, crença
Descrença, crentes, descrentes
Budistas, católicos, evangélicos,
Pagãos, ateus, panteístas
Astrólogos, astrônomos.

O amor jamais acaba
Mas havendo profecias
Desaparecerão
Havendo línguas
Cessarão
Havendo ciência
Passará.

Alta cultura, baixa cultura, sem cultura
Arte clássica, arte barroca, arte moderna
Loucura, consciência, abstração
Paixão explosiva, paixão, sexo
Intelectualidade, gênios, loucos.

Quando eu era menino
Falava como menino
Sentia como menino
Pensava como menino
Porém, logo que cheguei a ser homem
Desisti das coisas próprias de menino
Porque agora conheço em parte
Mas então conhecerei como também sou conhecido.

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Amor bastante

(Paulo Leminski)

quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Indiferença

Nessa conjuntura de sons,
Na variabilidade dos tons;
Nessa imensa totalidade de cores,
De razões e de pensamentos;
Nessa grandeza chamada amizade,
Pelo seu caráter atônito e inato;
Nessa abstração chamada tempo
A grandiosidade de termos imensuráveis.

Em vista dos tremendos feitos humanos,
Dos superlativos reais,
Das sobras que fazem parte do todo;
De tudo tem-se a plenitude,
Da plenitude tem-se a falta
E da falta
Tem-se a solidão.

10/07

domingo, 25 de maio de 2008

Sinceridade, Despedida e Travessia

Disseram por aí que o samba tocava
E eu de longe escutei;
Fui solitário ver o samba
O samba só.

O samba cantava triste,
"Pobre samba", disse eu.
Mas cantava
E cantava bonito,
Uma melodia sincera,
A dor assim exposta.

O samba cantava uma vez só,
Não repetia uma só palavra,
E quando terminou,
Terminou.

Fechou os olhos,
Me abraçou
E disse baixo, em meio a uma lágrima fugida:
"Esquece...".

Então fiquei atônito,
Abracei-o forte,
Derramei minhas lágrimas,
Todas escondidas
E agora tão frágeis.

E o samba não disse mais nada
Apenas esboçou um sorriso.

Ah samba meu,
Quanto de você é samba?
E quanto de você sou eu?


04/08

segunda-feira, 19 de maio de 2008

[Se um dia eu disser]

Se um dia eu disser
Te amo,
Acredite, pois não minto.
Mas se um dia eu não te olhar,
Não liga;
Pois eu fui ali no céu,
E volto já,
Pra te dizer de sentimentos,
De coisas absurdas,
Coisas quase inúteis.

Eu tentei te colocar na minha mente,
Mas aí eu vi que não te amava,
Simplesmente te queria,
Meio que egoísta, egocêntrico.
E quando não te amei consciente,
Foi quando eu te amei mais,
De maneira descomedida,
Louca e estúpida.

Mas não se preocupe, não,
Logo eu volto com a minha
Absurdez,
Com a minha poesia mentirosa,
Tão verdadeira quanto
A neblina que te permeia.

Se um dia eu mentir,
Por favor,
Lembra da minha poesia.

05/08

sexta-feira, 16 de maio de 2008

[Sentado nessa mesa]

Sentado nessa mesa,
Olho um copo vazio,
Um copo apenas.
Um copo que é de plástico.
Um copo real,
Vazio

Mas não o percebo de pronto.
Perco-me em volta,
Porém, logo fixo os olhos ,
No copo,
E vejo,
Assim, de repente,
Que é a realidade
Batendo-me a porta.

Estou agora desarmado
De minhas máscaras,
De minhas ilusões,
Vejo-me integralmente
E verdadeiro.

Agora sou livre,
Porém preso a
Um copo,
Real,
Que desfere um golpe,
E me humilha,
Por ser mais real
Que eu.

14/05/08

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Diálogo

A poesia é uma doença
Que encobre uma ferida
E desencobre outras

A poesia é uma droga
Que me traz a realidade

A poesia é um espelho em pedaços
E um a um eu
Remonto a minha imagem

Pedaço a pedaço
Eu reconstruo tal semblante
E não sou mais eu

Pouco a pouco eu monto
E agora nenhuma peça
Se encaixa no lugar

E de novo não sou eu à remontar

Aqui e ali
Dia após dia
Agora está tudo fora do lugar

Quem sabe a poesia
Não é mais o espelho
que julgava acreditar

11/07

sábado, 10 de maio de 2008

A fuga

Em vista de tudo,
Da dor, dos desaventos,
Das perguntas sem reposta;
Do passado, da herança,
Das pequenas trangressões,
Do riso forçado,
Da dificuldade de enfrentar a alegria;
Me sinto estarrecido com a calma,
Com a frieza tão acolhedora
Do céu, de uma flor fugida,
De uma criança que corre nas ruas
Cobertas de ouro negro.
Em que pés tão singelos,
Tão inocentes, pisam.
A esperança não nasce,
Ela vive.
E assim como o ser humano,
Ela envelhece e caduca.


11/07