quinta-feira, 29 de maio de 2008

Indiferença

Nessa conjuntura de sons,
Na variabilidade dos tons;
Nessa imensa totalidade de cores,
De razões e de pensamentos;
Nessa grandeza chamada amizade,
Pelo seu caráter atônito e inato;
Nessa abstração chamada tempo
A grandiosidade de termos imensuráveis.

Em vista dos tremendos feitos humanos,
Dos superlativos reais,
Das sobras que fazem parte do todo;
De tudo tem-se a plenitude,
Da plenitude tem-se a falta
E da falta
Tem-se a solidão.

10/07

domingo, 25 de maio de 2008

Sinceridade, Despedida e Travessia

Disseram por aí que o samba tocava
E eu de longe escutei;
Fui solitário ver o samba
O samba só.

O samba cantava triste,
"Pobre samba", disse eu.
Mas cantava
E cantava bonito,
Uma melodia sincera,
A dor assim exposta.

O samba cantava uma vez só,
Não repetia uma só palavra,
E quando terminou,
Terminou.

Fechou os olhos,
Me abraçou
E disse baixo, em meio a uma lágrima fugida:
"Esquece...".

Então fiquei atônito,
Abracei-o forte,
Derramei minhas lágrimas,
Todas escondidas
E agora tão frágeis.

E o samba não disse mais nada
Apenas esboçou um sorriso.

Ah samba meu,
Quanto de você é samba?
E quanto de você sou eu?


04/08

segunda-feira, 19 de maio de 2008

[Se um dia eu disser]

Se um dia eu disser
Te amo,
Acredite, pois não minto.
Mas se um dia eu não te olhar,
Não liga;
Pois eu fui ali no céu,
E volto já,
Pra te dizer de sentimentos,
De coisas absurdas,
Coisas quase inúteis.

Eu tentei te colocar na minha mente,
Mas aí eu vi que não te amava,
Simplesmente te queria,
Meio que egoísta, egocêntrico.
E quando não te amei consciente,
Foi quando eu te amei mais,
De maneira descomedida,
Louca e estúpida.

Mas não se preocupe, não,
Logo eu volto com a minha
Absurdez,
Com a minha poesia mentirosa,
Tão verdadeira quanto
A neblina que te permeia.

Se um dia eu mentir,
Por favor,
Lembra da minha poesia.

05/08

sexta-feira, 16 de maio de 2008

[Sentado nessa mesa]

Sentado nessa mesa,
Olho um copo vazio,
Um copo apenas.
Um copo que é de plástico.
Um copo real,
Vazio

Mas não o percebo de pronto.
Perco-me em volta,
Porém, logo fixo os olhos ,
No copo,
E vejo,
Assim, de repente,
Que é a realidade
Batendo-me a porta.

Estou agora desarmado
De minhas máscaras,
De minhas ilusões,
Vejo-me integralmente
E verdadeiro.

Agora sou livre,
Porém preso a
Um copo,
Real,
Que desfere um golpe,
E me humilha,
Por ser mais real
Que eu.

14/05/08

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Diálogo

A poesia é uma doença
Que encobre uma ferida
E desencobre outras

A poesia é uma droga
Que me traz a realidade

A poesia é um espelho em pedaços
E um a um eu
Remonto a minha imagem

Pedaço a pedaço
Eu reconstruo tal semblante
E não sou mais eu

Pouco a pouco eu monto
E agora nenhuma peça
Se encaixa no lugar

E de novo não sou eu à remontar

Aqui e ali
Dia após dia
Agora está tudo fora do lugar

Quem sabe a poesia
Não é mais o espelho
que julgava acreditar

11/07

sábado, 10 de maio de 2008

A fuga

Em vista de tudo,
Da dor, dos desaventos,
Das perguntas sem reposta;
Do passado, da herança,
Das pequenas trangressões,
Do riso forçado,
Da dificuldade de enfrentar a alegria;
Me sinto estarrecido com a calma,
Com a frieza tão acolhedora
Do céu, de uma flor fugida,
De uma criança que corre nas ruas
Cobertas de ouro negro.
Em que pés tão singelos,
Tão inocentes, pisam.
A esperança não nasce,
Ela vive.
E assim como o ser humano,
Ela envelhece e caduca.


11/07