segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Hoje e as estrelas.

De repente é um gosto amargo na boca
Um tiro a queima roupa
E me sinto,
Agora solto,
Quase ileso.
Eis que,
Andando na rua,
De repente paro.
Ouço as mesmas palavras de outrora,
Vejo o mesmo ciclo se repetir
O mesmo findar dos acontecimentos
Ai, como dói cada passo dado.
Mas eis que corro
Em minha direção.
(Eis que jogo fora o ciclo)
Me pego escutando estrelas
E, não duvide,
As tenho contado dia-a-dia.
Algumas me dizem bobagens
(e quão belas bobagens!)
Enquanto outras me dizem impropérios.
Nessas minhas conversas
Me dói perceber que,
Alguns dias sim, outros não,
Certas estrelas se apagam
E teimam a reacender.
(Ah, essa mágica miraculosa do amor. Amor?)
Porém, com muito custo
E ao findar de alguns dias,
Elas voltam a brilhar.
Fortes,
Vivas.
Agora,
"Ora direis ouvir estrelas?"
As tenho ouvido noite após noite,
E temo parar de ouví-las algum dia.
(Mas quanto temor há num simples gesto!)
Nesse torpor distante,
(Amor?)
Tenho vivido uma verdade;
Dita por estrelas,
Confesso.
(O que não deixa de ser minha pura e sincera verdade)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Passado Presente

O Hoje saiu brigado com o ontem.
Foi pela avenida principal,
Deu a volta na praça,
Virou a esquina,
Correu, correu;
Chegou na estrada que sai da cidade
Olhou e foi em direção ao mar.

Nadou, nadou,
E chegou em uma ilha no meio do nada.
Sentou,
Respirou o ar puro,
E até fechou os olhos.

Quando levantou encontrou o ontem,
Que, por sua vez,
Foi pela avenida menor,
Esqueceu da pracinha,
Não virou a esquina
E correu para o porto.

Pulou do navio no meio do nada,
Nadou, nadou
E alcançou uma ilha que parecia deserta.

Os dois se olharam
E cada um correu para uma direção,
Nadando, desesperados,
Afoitos,
Apenas esperando o momento
De se encontrarem de novo em uma ilha qualquer.

09/08

sábado, 13 de setembro de 2008

Descansa alma minha;
Desfruta da sua inépcia,
Do momento que vai
E que não pode ser preso por nimguém.
Deixa em paz os pássaros que te visitam;
Se, por acaso, eles voaram,
Como poderão voltar, a não ser por eles mesmos?
Do que adianta os gritos,
O tormento?
Visita o museu dos fatos,
Alegra-te no presente
E esquece o futuro.
Alma minha,
Por que choras alto,
Acordando assim quem já dorme?
Sai desse teu quarto de imagens,
Vem ver o dia que te chama.
Beija quem te ama,
Abraça quem pensa em ti;
Sem promessas de futuro,
O tempo presente só requer amor.

09/08

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

"Dói-me no coração
Uma dor que me envergonha
Quê ! Esta alma que sonha
O âmbito todo do mundo
Sofre de amor e tortura
Por tão pequena coisa...
Uma mulher curiosa
E o meu tédio profundo ? "

Fernando Pessoa

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Ruptura

Há um grito que ecoa
Pelas ruas, pelas calçadas;
Entra nas casas,
Faz-se ouvir nos quartos.

É o grito que
Tira a esperança dos débeis,
A lucidez dos sábios,
A certeza dos amantes.
É o som que ensurdece,
Fere os imortais,
Abre a ferida e estanca.

Absorto, absorto,
Náufrago, solitário
No espelho turvo
Dos sonhos.

Torpor
Torpor.

Não sinto mais amor
Não sinto mais ódio
Não sinto mais alegria
Não sinto mais tristeza
Não sinto mais
Não sinto
Não
...

É o grito que separa
A fala de quem ama;
E o silêncio
De quem conta estrelas
Entre sonhos e promessas de eternidade.

09/08